O MUNDO É UM MOSAICO DE PONTOS DE VISTA. APRENDEMOS MUITO COM OS PONTOS DE VISTA DOS OUTROS, E PERDER NEM QUE SEJA UM PEDAÇO DESSE MOSAICO É UMA PERDA PARA TODOS NÓS.
(DAVID CRYSTAL)

quarta-feira, 21 de março de 2012

UMA POESIA! BELA POESIA!




 Carolina Matta Machado 

 Elisa Lucinda, capixaba, 44 anos, poeta, atuou nas peças "Rosa, um Musical Brasileiro", sob direção de Domingos de Oliveira, e "Bukowski, Bicho Solto no Mundo", sob direção de Ticiana Studart, e no filme "A Causa Secreta", de Sérgio Bianchi. Publicou "A Menina Transparente", "Euteamo e suas Estreias" e "O Semelhante" 
                                            
                  
Elisa Lucinda
AVISO DA LUA QUE MENSTRUA

















 Moço, cuidado com ela!
 Há que se ter cautela com essa gente que menstrua...
 Imagine uma cachoeira às avessas:
 cada ato que faz, o corpo confessa.
 Cuidado, moço
 às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
 essa gente que se metamorfoseia
 metade legível metade sereia.
 Barriga cresce, explode humanidades
 e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
 mas é outro lugar, aí é que está:
 cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita...
 Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
 que vai cair no mesmo planeta panela.
 Cuidado com cada letra que manda pra ela!
 Tá acostumada a viver por dentro,
 transforma fato em elemento
 a tudo refoga, ferve, frita
 ainda sangra tudo no próximo mês.
 Cuidado, moço, quando cê pensa que escapou
 é que chegou a sua vez!
 Porque eu sou muito sua amiga
 é que eu tô te falando "na vera"
 conheço cada uma, além de ser uma delas.
 Você que saiu da fresta dela
 delicada força quando voltar a ela.
 Não vá sem ser convidado
 ou sem os devidos cortejos...
Às vezes pela ponte de um beijo
 já se alcança a "cidade secreta" a Atlântida perdida.
 Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela
 Cuidado moço, por você ter uma cobra entre as pernas
 cai na contradição de ser displicente
  diante da própria serpente.
  Ela é uma cobra de avental.
     Não despreze a meditação doméstica.
     É da poeira do cotidiano
     que a mulher extrai filosofia
     cozinhando costurando
     e você chega com a mão no bolso
     julgando a arte do almoço: Eca!...
     Você que não sabe onde está sua cueca?
     Ah, meu cão desejado
     tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
     então esquece de saber morder devagar
     esquece de saber curtir, dividir.
     E aí quando quer agredir
     chama de vaca e galinha
     São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
     O que é que você tem pra falar de vaca?
     O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
     VACA é a sua mãe. De leite.
     Vaca e galinha...
     ora, não ofende. Enaltece, elogia:
     comparando rainha com rainha
     óvulo, ovo e leite
     pensando que está agredindo
     que tá falando palavrão imundo.
     Tá não, homem.
     Tá citando o princípio do mundo!

O Semelhante - Elisa Lucinda - Ed. Record - Da série "Ímpetos", agosto de 1990
Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/cidadania/0122_7.html
Acesso em 21/03/2012.

Postado por Cecília Umbelina Roza

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