O MUNDO É UM MOSAICO DE PONTOS DE VISTA. APRENDEMOS MUITO COM OS PONTOS DE VISTA DOS OUTROS, E PERDER NEM QUE SEJA UM PEDAÇO DESSE MOSAICO É UMA PERDA PARA TODOS NÓS.
(DAVID CRYSTAL)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Mulheres ao volante, segurança constante!

Por Cristina Silveira em 31/03/2010



Mulher no volante 
Mulher ao volante perigo constante” é uma frase preconceituosa, machista, mentirosa e carregada de argumentação da profundidade de um dedo, nada, nada contundente! As mulheres conduzem seus veículos de maneira muito mais consciente, vigilante, coerente e tranqüila que os homens. Os dados estatísticos mostrados aqui nos apontam para a veracidade dessa afirmativa. Não é a crítica por si só, mas algumas observações que podem nos levar à reflexão e, quem sabe, à mudança de postura, por um trânsito menos violento e raivoso.
As ruas estão povoadas de milhares de homens ao volante, muito mais do que mulheres, o que torna mais provável que os acidentes causados ou sofridos no trânsito sejam ocasionados por eles. Segundo dados do Denatran (2008), existem 71% de homens ao volante e apenas 29% de mulheres. Em cada 10 veículos que circulam nas ruas, apenas 03 são conduzidos por mulheres. Ainda somos minoria no quesito direção, o que talvez justifique ainda existir preconceito quanto às habilidades femininas de condução de veículos. Da mesma forma, como a maioria das pessoas que trabalha como empregado doméstico é do sexo feminino, os homens são “mal vistos” ao ocuparem essa função, pela conotação que ela tem de “função feminina”.
Com a correria do dia a dia, cada vez mais é necessário estar em vários lugares ao longo do dia. Quase chegamos a contrariar a lei da inviolabilidade dos corpos, querendo ocupar vários lugares ao mesmo tempo, em uma tentativa desesperada de ganhar tempo. E me pergunto para quê? Se o desperdiçamos com a TV e a internet, deixando de curtir o que realmente importa nessa vida: as pessoas que amamos.
27.449 homens perderam a vida no trânsito em 2008. Já o número de mulheres foi bem menor: 4.615. Devemos levar em consideração que algumas dessas mulheres morreram na condição de caronas, não de condutoras. E o número de pessoas feridas também não é nada pequeno: 450.623 homens e 143.550 mulheres. A pressa louca de uns, o egoísmo extremos de outros e o egocentrismo de quase todos frutificaram em muitas perdas, dor e solidão. As mortes e ferimentos no trânsito têm sido mais frequentes que pela violência das grandes cidades.
Quem passa boa parte do dia ao volante, principalmente nos horários de maior fluxo, percebe a quantidade de irregularidades que são cometidas por condutores apressados, arrogantes, impacientes, intolerantes, egoístas e abusados. E, como não poderia deixar de ser, a maioria é do sexo masculino, salvas as devidas proporções, claro. Sinais, faixas, preferências, limites de velocidade e outros condutores são desrespeitados. Motoqueiros vivem no mundo da “baixa costura”, circulando entre os veículos e buzinando o tempo todo, como que exigindo que os carros se espremam nos cantos das pistas para deixar caminho livre para que eles possam “costurar” a vontade. Nos estreitamentos de pista sempre existem os apressadinhos, que não “podem” esperar a vez de entrar na pista e “furam” a fila, entrando na frente dos demais condutores, forçando passagem de maneira perigosa, correndo o risco de danificar o seu carro e dos demais. Haja boa condução nessa hora!
E o que dizer dos condutores de veículos de grande porte? Circulam fora das faixas obrigatórias destinadas a eles, impedem a passagem de carros menores, fazem manobras arriscadas e alguns chegam a ponto de jogar o veículo para cima dos outros carros, dando as famosas “fechadas”, quando percebem que são guiados por mulheres, divertindo-se ao assustá-las. Uma festa de desrespeito!
Algumas ultrapassagens realizadas nas vias terminam em verdadeiros “pegas”, quase sempre protagonizados por homens, que, por motivos que Freud deve explicar, não aceitam ser passados para trás. Nessa hora parece haver uma competição de virilidade, ainda mais se os infelizes estiverem acompanhados de alguma mulher. Aí parecem querer abrir as asas, como pavões e mostrar como são bons condutores a ponto e não se deixar ultrapassar.
Parece tão contraditório que os mesmos homens que são tão gentis com as mulheres, no trânsito as menospreze e até hostilize. O cavalheirismo e a cordialidade não são atributos de todos. E quanto maior o carro menor a capacidade de enxergar o próximo ao volante, neste caso, seja mulher ou homem. Isso Freud também deve explicar.
É claro que existem mulheres que dirigem mal, assim como também existem homens “ruins de roda”, mas o que incomoda é a arrogância da grande maioria dos machos dominantes que acham que mulher combina mais com fogão do que com carros. E também imaginam que, só pelo fato de ser homem, já se dirige bem e, ao verem uma mulher que dirija bem, têm a cara de pau de dizer que ela “dirige como um homem”. Essa demonstração de preconceito contra as mulheres deve ser combatida, assim como qualquer outra forma de preconceito, sejam contra as mulheres, contra os negros, contra os gays, contra os deficientes, contra os pobres, contras os estrangeiros e tantas outras.
Enquanto estamos no trânsito, transportando crianças ou adolescentes, qual é a nossa postura? Somos respeitadores, tanto das regras quanto das pessoas? Usamos de frases preconceituosas em relação às mulheres que encontramos guiando seus veículos nas mesmas vias que nós? Somos generosos e gentis com os demais condutores? Estas reflexões devem ser feitas por nós a cada dia, como forma de autopoliciamento, pois preconceito é algo que se aprende e temos a responsabilidade de formar opinião e postura dos futuros condutores. Nada ensina mais que o exemplo!
*Cristina Silveira é professora do ensino fundamental e médio, pedagoga, especialista em dificuldades de aprendizagem, docente da rede estadual de ensino (RJ) e da rede municipal de Duque de Caxias (RJ), onde atua na Subsecretaria Adjunta de Planejamento Pedagógico e autora do livro Ziraldo na Sala de Aula (Editora Melhoramentos).

                                                    
                                                 Por Arieli R. Alves de Souza 

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